Dos olhos de D. Fernando saíam dous tenues reflexos; eram os raios da lua que se espelhavam em duas lagrymas.
A raínha, alevantando-se então, disse ao donzel:
“Nunalvares Pereira, vêde quem está nessa sala.”
Nunalvares abriu a porta, e alongando a cabeça voltou-se immediatamente, e disse:
“O corregedor da côrte.”
Os dous fidalgos pararam na extremidade do aposento, calaram-se, e conservaram-se immoveis.
A rainha fez signal com a mão a Nunalvares para que esperasse: o donzel ficou á porta sem pestanejar.
D. Leonor encaminhou-se então para elrei, que, embebido no seu profundo scismar, não víra nem ouvíra o que se fazia ou dizia. Curvando-se, e firmando o cotovello no braço da cadeira d’elrei encostou a cabeça sobre o hombro delle, com a face unida á sua.
“Que tens tu, Fernando?—perguntou ella com essa inflexão de voz meiga, que só sabem labios de esposa que muito ama, mas com que tambem soubera atinar esta mulher sublime de hypocrisia.
“Nada! oh ... nada!”—respondeu elrei, lançando-