É tudo inútil!
Minha mulher tem agora vinte e seis anos. Está em pleno desenvolvimento de suas graças físicas; nunca foi tão bela, tão sedutora e tão mulher. E eu, com trinta e cinco anos, na força da idade e da saúde, reconheço tudo isso, admiro-lhe os dotes físicos, tenho orgulho da sua beleza e, em consciência, não compreendo mulher mais perfeita e mais digna de amor que a minha. E contudo, o amor entra no comércio da nossa vida íntima apenas como ligeiro e fugitivo incidente. Apesar de reconhecer o seu inapreciável valimento feminil, a riqueza daquele palpitante tesouro de formas brancas e formosas, o preço daquele corpo carinhoso e casto, só vejo, só enxergo nela, a mãe dos meus filhos, só vejo o ventre sagrado, donde nasceu em ondas de sangue a minha felicidade de ser pai.
Beijo-a, acarinho-a sinceramente, ao sair de casa, ao entrar da rua; às vezes interrompo o meu trabalho para tomar-lhe as mãos, assentá-la um instante sobre os meus joelhos, passar-lhe o braço na cintura. Mas estes afagos, alheios ao transporte amoroso, são feitos