E a sombra humana da melancolia
Sentar-se á sua sombra meditando...
E em sonhos, que veria a terra verde?
A arvore e a sua flor, a fôlha de hera
Mais a sua esperança; e até no inverno,
Sonhando, ela veria a Primavera.»
E depois a Saudade, irmã do Outomno,
Afastou-se d'ali para viver
Seus instantes de mystico abandono,
Sósinha, com o Espirito do mundo...
E Marános e o Outomno contemplaram-se
Face a face. D'um lado era o sêr vivo;
Do outro lado o phantasma: a Natureza
E um seu lucido gesto fugitivo.
E Marános, já mais iniciado
No mysterio das almas e das cousas,
Viu esse Vulto em bruma alevantado,
Que, tão proximo d'ele, lhe falára,
E disse:
«Ó bom Espectro que derramas,
Em derredor de ti, profunda magua,
Concebida no seio astral da luz,
Como as nuvens do ar no seio da agua,
Eu conheço-te, sim! pois sou aquele
Que dá vida aos Phantasmas quando escura,
Noite vem sobre a terra, e o seu aroma
Perturba os astros na suprema Altura...