13


Ah, não me deixes nunca! Nem tu sabes
A chamma que em meu peito vae lavrando
Depois que me falaste e que os teus olhos
Estão estes penedos animando!


«És da vida e do mundo, como eu sou;
Todo o meu sêr, emfim, te reconhece;
Meu sêr que já teu Vulto enevoou,
Emquanto fôste nuvem, sonho vago...
Agora és a Verdade, a Luz divina!
E a bruma que meus olhos abafava
Condensou-se na fórma crystalina,
Definida e perfeita do teu corpo.


«Subiste á superfície iluminada
Da Alegria bemdita e creadora,
Ó luz da minha vista naufragada
Na fundura oceanica das lagrimas!
E já se faz o dia! E vejo emfim!
Já vejo a luz sagrada! A cada instante,
Sinto-te, Deusa oculta, ao pé de mim;
Bafeja-me o teu halito divino...
Ó Divindade, ampara-me e protege-me!
Dá-me o teu braço, e leva-me atravez
Do mysterio era que vives, d'essa noite
Toda feita da tua esplendidez...»


N'um movimento cégo e inconsciente,
Marános levantou-se; e comovido,
Tentou beijar-lhe a face, mas sómente
Beijou a noite, o luar, a sombra palida...

E nos seus labios trémulos sentiu