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Roubá-lo ao meu amôr, se és incapaz
De amar? e se tu mesma não pertences
Á vida a que nós ambos pertencemos?
Ignoras a alegria de quem ama
E se sente mortal em seu amôr!
Ah! nunca ardeu em ti aquela chamma
Que nos transforma em cinza e poeira vã!
Jámais sofreste, sim! Nunca em teus dias
A luz victoriosa da manhã,
De repente, caiu vencida e morta!
Nunca ergueste nas mãos, saudando alguem,
O calice divino da amargura!
Nunca sentiste a dôr que só á Mãe
A Vida, de joelhos, entregou.
—És bela! mas não tens aquele encanto
Que uma lagrima deixa em nosso rosto,
E nunca a triste voz de etéreo canto
Derramou seu crepusculo em teus labios.
Essa tua chimerica beleza,
Mais divina que humana, desconhece
A sagrada volupia da Tristeza
E o ante-gosto abysmatico da Morte!
Tu não sofres nem amas! Este mundo
É para ti um vago nevoeiro
Que na alucinação dos teus sentidos,
Passa como um phantasma caminheiro...


«Inimiga da Vida e Sombra vã,
Eu te arrenego! Sóme-te! E jámais
Tu venhas perturbar esta manhã
Em sua harmoniosa claridade...»