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Com toda a sua terra e solidão
E o divino silencio das Alturas!
Sou a rude Montanha austéra e calma;
Cordilheira de nevoas e de espectros,
Esfumada nos longes da tua alma
E por ti mesmo erguida á luz do sol!
Sou a Serra ideal que te acompanha,
E que teus olhos intimos avistam,
Sob o luar translucido que banha
A paisagem—phantasma do Outro Mundo.
E cavo, dentro em ti, despenhadeiros,
D'onde os lobos se afastam, quando é noite...
Ouço, em ti, as canções dos pegureiros
E os sussurros dormentes do crepusculo...
Em gelida cascata, em ti, murmuro;
Em ti, me afundo em vales solitarios...
E tornando-me altiva e penhascosa,
Ergo, em tua alma, os tragicos calvarios!
E em serenos planaltos eu me espraio
Dentro em teu coração! E á luz da Lua,
Toda abafada em nuvens, eu desmaio
E sinto que me fogem os sentidos!
No espaço interior dos olhos teus
O meu corpo se eleva em terra e fraga,
Sob o beijo chimerico dos céus,
Que é a suprema razão d'esta existencia!
Desde os longes de bruma em que me perco
A esta terra que vês tão pedregosa,
Dentro em teu coração, toda me sinto
Espirito e anciedade religiosa...»


E a grande voz da Serra se espraiou