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De noite, no Luar se refugiam
Seus olhos, como em templo recatado...
E seus ouvidos ávidos recolhem
Os murmurios da Sombra no ar parado...
De dia, a luz do sol o embriagava,
Os perfumes e a brisa passageira
Que nos longínquos mares se impregnava
De frescuras de espuma e brancos vôos
De gaivotas, pairando em multidão,
No cólo vivo e lucido das ondas...
E ali, n'aquela amavel solidão
As Horas conversavam com Marános...


Um dia, em que ele estava distrahido,
Sentado n'uma pedra, viu chegar
Ao pé de si um vulto de Mulher.
E então, a sua alma e o seu olhar
A conheceram logo...


 Extasiado,
Marános a saudou: (n'um chôro de oiro,
Nascia a Luz e o Zephyro acordado
Parecia tentar as brandas azas)


«Mulher terceira vez aparecida
Ante o meu coração que te estremece!
Tu que és tanto de mim, da minha vida,
Que nem a carne e o sangue d'este corpo!
Com que prazer tão intimo te vejo
N'este silencio mystico e profundo
Que parece descer na luz da lua
E na luz das estrelas sobre o mundo...

Anda; senta-te aqui, ao pé de mim;