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E a própria alma é feita d'esse fumo
Que a luz dos astros deixa, ao apagar-se...
Porque foi que partiste? Que desejo
Te fez abandonar meu corpo amado
Por esta Imagem triste que tu vês,
Tão remota, tão palida ... e ao teu lado!...»


«Ah, tu não compreendes o Destino,
Marános respondeu; a estranha Força,
O Fado impenetrável e divino
Que me trouxe e chamou para a Montanha!
Ah, tu não percebeste nem ouviste
A Voz que me falou, porque és ainda
Dôr escrava a sofrer, Tristeza triste;
Ha corpo e morte ainda em teu espirito...
És a Saudade, sim! Não és apenas
Sobrehumana Tristeza espiritual;
Essa Dôr que é sofrida e que não sofre...
És ainda o Outomno e a arvore outomnal...
Por isso, não entendes a razão
Porque te disse adeus e te deixei!
Tu és ainda o Amor e o Coração,
E foi sómente o Amor que me chamou!


«Meu destino é seguir a Voz eterea
Do Sêr Espiritual que vive em mim
E no qual minha dôr, minha miseria,
Está liberta, alegre e redimida.
Sigo o Espirito amado e que não ama,
E de quem te aproximas; mas ainda
Teu doce vulto animico derrama
Negra sombra de amor que me entristece...»