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MULHERES E CREANÇAS

estantes de madeira, e jarras de flôres na mesa de jantar, com a luz clara e festiva do sol, a illuminal-a toda, com o aceio escrupuloso que é o luxo dos pobres, com a tranquilidade doce e recolhida, que é a poesia dos que se amam e na qual põe a espaços a nota clara e festiva o riso do nosso filhinho, a nossa casa é como que a deliciosa encardenação do poema do nosso amor!

Todas as senhoras que eu conheço sahem muito; os maridos voltam á noite exangues das enfadonhas labutações do dia, com o espirito abatido, com o corpo cansado e no entanto teem de seguil-as ao baile, ao theatro, a casa das amigas, de figurarem de comparsas na fastidiosa comedia social, de se mostrarem debaixo de um aspecto desfavoravel, de realizarem emfim á risca o lendario typo que o romantismo amarrou ao pelourinho do ridiculo, o marido macambuzio, o marido desengraçado, o marido sem espirito, em quanto á roda, fresco, malicioso, cheio de ditos e anecdotas, com uma rosa na abotoadura, borboleteia o galan que povôa de perigosas seducções a fantasia de todas as pobres mulheres frageis!

Minha mulher á noite sahe raras vezes, de modo que eu durante o dia, na atmosphera pesada e asphyxiante do escriptorio, estou sem querer a scismar no conforto que me espera quando eu voltar.