O POÇO E O PENDULO
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trevas da masmorra). N'outra disposição de espirito, teria tido coragem de acabar por uma vez com as minhas miserias, precipitando-me de mergulho n'um d'esses abysmos; mas então, o espanto tornara-me o mais cobarde de todos os homens. Além d'isso, não podia esquecer o que tinha lido a respeito d'aquelles poços (que a morte instantanea era uma possibilidade cuidadosamente excluida pelo genio infernal do seu inventor).

A agitação do espirito conservou-me accordado durante algumas horas; mas por fim tornei a pegar no somno. Ao despertar, achei ao meu lado, como da primeira vez, um pão e uma bilha d'agua. Consumido por uma sêde devoradora, despejei a bilha de um só trago. Aquella agua continha por força qualquer droga soporifera, porque apenas a bebi, senti um somno irresistivel e adormeci profundamente; parecia o somno da morte! Não posso dizer quanto tempo assim dormi; mas quando tornei a abrir os olhos, os objectos que me cercavam já não estavam immersos nas trevas. Graças a uma claridade singular, sulfurosa, cuja origem não soube primeiro interpretar, podia vêr o tamanho e o aspecto da prisão.

Tinha-me enganado muito sobre as suas dimensões. As paredes não podiam ter mais de vinte e cinco jardas de circuito. Durante alguns minutos aquella descoberta produziu em mim grande perturbação; perturbação pueril na verdade, porque, no meio das circumstancias terriveis que me ameaçavam, que me importavam as dimensões da prisão? Entretanto, a minha alma interessava-se caprichosamente por aquellas bagatellas. Appliquei-me sériamente a perceber o erro que havia commettido na medição, até que a verdade me appareceu como um relampago. Na minha primeira tentativa de exploração tinha contado cincoenta e dois passos, até ao