corpo, como um rasgão de farrapo espetado ao alto de um pau nas searas, para espantalho. E a mãe apoiou: — E um idiota! —, enquanto o bom do homem, derretido e grato, de gravata encarnada, sobrecasaca preta, a calça de pano fino, larga e embalonada, caindo em refego sobre as esporas, e qualquer coisa de couraçado e cingido como um espartilho a definir-lhe o abdómen e a quebrar-lhe a cinta sobre os quadris, balbuciava numa opressão de modéstia, as brotoejas rosáceas da testa roxas da comoção:

— Ó minhas senhoras, confundem-me!... Eu não sou poeta... Apenas um simples jeitoso.

Entrava ao tempo, dandinante, viçoso e fresco, todo numa preocupação barulhenta de ser notado, o formoso Xavier da Câmara, pastinhas à petitcrevet, monóculo, polainas, e uma enorme gardénia, que parecia talhada em jaspe, brilhando na botoeira do fraque verde, muito curto, de botões de madrepérola. Era a figura dominante do sport lisboeta, o estalão da moda para os marialvas, o galanteador mais afortunado dos salões.

— Que belo ar de festa aqui vai hoje! — exclamou logo; depois, cumprimentando a dona da casa: — Felicito-a, minha senhora... Pelo que vejo, trata-se de coroar de louros o nosso coronel... Pois vem-me tout à souhait a oportunidade; há muito que eu ardo no empenho de lhe fazer também un petit bout de apoteose. — E sacudindo muito a mão do coronel, com o pé esquerdo leve e o corpo todo cambando à direita, num exagero pretensioso: — Parabéns, coronel, muitos parabéns!

Entretanto a baronesa, levemente afogueada,