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Paul Gallico


As deformidades físicas muitas vezes geram ódio da humanidade em homens que as possuem. No entanto, Rhayader não sentia ódio — muito pelo contrário — ele amava profundamente as pessoas, o reino animal e a natureza. Seu coração era repleto de compaixão e compreensão. Ele sabia conviver bastante bem com suas deficiências físicas, mas não conseguia lidar com as discriminações que sofria por causa de sua aparência. O que o levou a mergulhar no isolamento foi sua incapacidade de encontrar em algum lugar reciprocidade à cordialidade que transbordava dele. Ele repelia mulheres. Os homens até se aproximariam se o conhecessem. Mas o mero esforço em nome da sociabilidade machucava profundamente Rhayader e o levava a evitar a pessoa que o fizesse.

Ele tinha vinte e sete anos quando veio para o Grande Pântano. Ele viajara muito e lutara bravamente antes de tomar a decisão de retirar-se de um mundo do qual não poderia fazer parte como outro homem qualquer. Apesar de sua sensibilidade artística e da ternura feminina enclausuradas em seu peito abaulado, ele era, sem dúvida alguma, um homem.

No seu retiro, ele tinha seus pássaros, suas pinturas e seu barco. Possuía um barco dezesseis-rodapés, o qual pilotava com uma habilidade maravilhosa. Sozinho, sem ninguém para o guiar, dirigia muito bem usando sua mão deformada, e frequentemente usava seus fortes dentes para controlar com maestria as escotas das velas onduladas de seu barco.

Ele navegava pelos pequenos riachos e estuários, indo até o mar, e às vezes ficava fora por dias, procurando novas espécies de pássaros para fotografar ou desenhar; tinha também o hábito de capturá-los com uma rede, para juntá-los à sua coleção de