28

Paul Gallico


Com a partida do ganso-das-neves terminaram as visitas de Frith ao farol. Rhayader compreendeu novamente o significado da palavra "solidão".

Naquele verão, a partir de suas memórias, ele pintou a tela de uma criança magra e coberta de sujeira, seus cabelos loiros alvoroçados pelo vento de novembro, carregando em seus braços uma ave branca machucada.

Em meados de outubro, um milagre aconteceu. Rhayader estava em seu cercado, alimentando os pássaros. Soprava um vento cinzento vindo do noroeste, e a terra gemia sob a maré que vinha chegando. Acima do mar e dos sons do vento, ele ouviu claramente um canto agudo. Virou seus olhos para o céu vespertino a tempo de ver primeiro uma mancha infinita de pássaros e, então, uma figura vaga de penas pretas-e-brancas que deu uma volta no farol e que finalmente tomou forma quando pousou no terreno dentro do cercado, aproximando-se num bamboleio e pedindo para ser alimentada, como se nunca tivesse ido embora. Era o ganso-das-neves. Não haviam dúvidas de que era a Princesa. Lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Rhayader. Onde ela esteve? Certamente, não voltou para o Canadá. Não, ela deve ter veraneado na Groenlândia ou em Spitzbergen, junto com os gansos selvagens. Ela lembrou do farol e retornou até ele.

Na próxima vez em que Rhayader foi ao vilarejo de Chelmbury comprar mantimentos, ele deixou uma mensagem com a funcionária dos correios — mensagem essa que deve ter causado nela muito espanto. Ele disse: — "Avise Frith, que vive na colônia de pescadores em Wickaeldroth, que a Princesa Perdida retornou."