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Paul Gallico


nós fomos dar uma olhada lá, hein? Estranho você ter mencionado um ganso."


Fritha permaneceu sozinha no pequeno farol do Grande Pântano, cuidando das aves, aguardando por algo que ela não sabia exatamente o que era. Nos primeiros dias ela ficou ao lado da parede marítima, apenas observando, embora soubesse que isto não fazia sentido algum. Depois, ela vagou pelos depósitos do farol, cheios de pilhas de telas, nas quais Rhayader capturara todo o espírito e a luz do pântano desolado e as incríveis, graciosas aves que nele habitavam.

No meio delas, Fritha encontrou a pintura de memória que Rhayader fizera dela muitos anos atrás, quando ela ainda era uma criança, e aparecera, toda tímida, no marco da porta, segurando uma ave ferida.

A pintura e as coisas que ela viu retratadas nela mexeram com ela de uma maneira inédita. Muito da alma de Rhayader estava ali. Curiosamente, esta foi a única vez que ele pintou o ganso-das-neves, a criatura selvagem perdida, arrastada pela tempestade para uma terra distante, criatura que levou Frith a fazer um amigo e que, no final das contas, retornou para ela com a mensagem de que nunca mais o veria novamente.

Muito antes do ganso-das-neves retornar, descendo de um céu escarlate para circular o farol em uma última despedida, Fritha, através dos poderes antigos do sangue que nela circulava, sabia que Rhayader não iria retornar.

E então, quando durante um certo pôr-do-sol ela ouviu o canto agudo e que lhe era tão familiar soando nos céus, não surgiu em momento algum uma falsa esperança em seu coração. Este momento, lhe parecia, ela já havia vivido muitas vezes.