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Paul Gallico


animal de carga poderiam ganhar para si algumas notas amassadas de dez e vinte liras[1], necessárias para comprar comida e pagar a acomodação no celeiro de Niccolo, o dono do estábulo.

Pepino e Violetta eram tudo um para o outro. Eles eram figuras bem conhecidas em Assis e seus arredores — o menino magro e moreno, de orelhas grandes, esfarrapado e descalço, com enormes olhos escuros, cabelo curto e volumoso, e a pequena mula de coloração empoeirada, com um sorriso de Mona Lisa[2].

Pepino tinha dez anos e era órfão. Seu pai, mãe e parentes próximos haviam sido mortos na guerra. Sua autoconfiança, sabedoria e comportamento eram comparáveis aos de uma pessoa com muito mais idade, devido principalmente à sua independência, visto que Pepino era um órfão incomum por ter uma herança que o fazia não confiar em ninguém. Sua herança era Violetta.

Ela era uma mula bondosa, útil e dócil, parecida com qualquer outra por seus olhos amigáveis e gentis, com um focinho delicado de cor cinza-claro e orelhas longas, pontudas e marrons, mas com uma exceção que a distinguia: Violetta tinha uma curiosa expressão nos cantos da boca, como se ela estivesse sempre sorrindo gentilmente para qualquer coisa que pudesse entrete-la ou agradá-la. Desta forma, não importava qual tipo de trabalho, ou quanto esforço lhe era exigido, ela sempre o fazia com um sor-

  1. A Lira foi a moeda italiana que vigorou entre 1861 e 2002, até ser substituída pelo Euro. [NT]
  2. Referência ao famoso quadro pintado pelo artista florentino Leonardo da Vinci, conhecido também como A Gioconda (século XVI). [NT]