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Paul Gallico


descartar; e elas também emocionaram este padre, tal é o poder peculiar das flores — que são universais e espalham suas espécies ao redor do mundo, invocando, em cada um que as seguram, as mais queridas e estimadas lembranças.

Desta forma, o pequeno buquê passou de mão em mão pelos escalões mais altos da hierarquia eclesiástica, parando brevemente em posse do clérigo da câmara apostólica, do almoner[1] privado, do sacristão papal, do mestre dos palácios sagrados, até chegar ao camareiro papal. A umidade das flores sumiu, elas começaram a perder seu frescor e a murchar, por passar por diversas mãos. Mas mesmo assim, elas ainda continham sua mágica, a mensagem de amor e as memórias atribuídas a elas, o que impossibilitou que qualquer um destes intermediários descartassem-nas.

Então, eventualmente, elas foram depositadas com a carta que as acompanhava na mesa do homem a quem haviam sido destinadas. Ele leu o recado e então se sentou para contemplar as flores. Ele fechou seus olhos por um instante para vislumbrar melhor a imagem que surgiu em sua mente, dele mesmo, como um pequeno garoto romano sendo levado em um domingo para as colinas de Alba, onde pela primeira vez viu violetas crescendo de forma selvagem.

Quando abriu seus olhos, ele disse para seu secretário: — "Deixe trazerem o menino até aqui. Eu o verei."

Foi deste modo que Pepino finalmente chegou à presença do Papa, sentado na mesa de seu escritó-

  1. Membro da Igreja responsável por distribuir bens aos pobres. A tradução mais próxima para o português seria esmoleiro. [NT]