interminavelmente na estante. Eram de constante, umas surdinas harmoniosas, uns acordes fortes, apenas virgulados pelas palmas do Pedro e as aprovações de d. Augusta e sá Jovina, em meio à tristeza do menino que não ouvia a história.
Entretanto o Valentim viera interrompê-los, prevenindo-os de que o chá já estava na mesa. Nenê levantou-se de mau humor, com vontades de prolongar ainda aquela sessão musical que atualmente lhe constituía o único divertimento do dia. E quando todos se agruparam em torno à mesa, nos lugares que habitualmente ocupavam, a moça ainda conservava estampado na fisionomia o contradizer das sensações que a agitavam, misto de prazeres e dores, o meigo êxtase às vibrações harmoniosas que lhe repercutiam pelo interior do crânio e a contrariedade por ter-se visto obrigada a suspender bruscamente essa fonte sonora de doces enleios e poéticas visões. Distraída do que se passava, parecia absorta nuns mundos estranhos, sem dar atenção ao que a rodeava. E o chá ia sendo tomado aos bocadinhos, num grande silêncio de vozes, perturbado apenas pelo barulho dos dentes a mastigarem as torradas, esse barulho de ratinho