que divertia tanto ao Pedroca. O menino porém conservava-se quieto, nuns ares de zangado, porque lhe tinham imposto silêncio e não o deixaram divertir-se em ouvir a história de sá Jovina. Calava-se, a cabecinha loura descansando sobre o braço nu, à borda da mesa.

Para contentá-lo, e como o Marcondes fizesse notar o modo tristonho da criança, a boa velha tomou-o ao colo e pôs-se a lhe contar uma história muito comprida. "Era uma vez um velho lavrador que tinha três filhas, tão bonitas que uma se parecia com o sol, a outra com a lua e a terceira com as estrelas! E o bom velho era pobre, tão pobre que nem tinha criados e ia ele mesmo ao mato para fazer lenha! Uma noite quando voltava para casa, carregando às costas o feixe de lenha, encontrou-se com um príncipe muito bonito, tão bonito que se parecia com o azulado do céu". E sá Jovina continuava no mesmo tom, a repetir pedaços de frases que o Pedroca parecia beber-lhe dos lábios numa grande sinergia de prazeres. Em torno da mesa tinha-se feito o silêncio e, a pouco e pouco, iam prestando atenção à boa velha, comprazendo-se em ver esse pequeno quadro da vida doméstica, enquanto o menino deixava amolecerem-