de seda, escarpins de pelica. Senta-se um instante.

— Sabes que inda não pensei no questionário? Há lá um ponto muito grave, — a pergunta sobre a influência do jornalismo.

— É dizer qualquer coisa: muito bom, muito mau, regular...

— Sem explicações?

— Pois se é grave!

Neto sorri.

— Vamos a ver o questionário. Deve estar numa destas gavetas.

Procura-o. O papel branco em breve aparece dobrado em dois, e eu prevejo que daquelas simples perguntas a imaginação de Coelho Neto fará surgir a maravilha e o encanto. Se é de pasmar o brilho, a cintilação de estilo no escritor, a faculdade da imagem, o poder evocador, o comentário agudo e a torrencial fantasia do seu claro espírito como que se acentuam na conversa. Neto conversa irresistivelmente, caleidoscopicamente. A palavra vive no seu lábio com um poder formidável e consciente. Há momentos em que se tem, pela harmonia dos períodos, a rápida impressão dos malabaristas jogando bolas de metal de pesos diferentes, e cada fase sua em torno do assunto traz, numa palpitação de encantos, a constante visão dos cultos mortos e dos deuses. Coelho Neto é, de resto, de uma rude franqueza meridional.