mesmo para conter o furor que lhe cintilava nos olhos -, antes disso cumpre advertir-vos uma cousa. Conheço-vos: de sobejo vos conheço eu! Mas não basta vosso simples testemunho e vosso ar altivo para vos crermos mensageiro do mancebo Afonso Henriques, que se intitula senhor e infante de Portugal; mensageiro dos ricos-homens, infanções e concelhos que dizeis vos enviaram. Quem pode afirmar que um homem é o que parece? Muitas vezes motivo oculto obriga o cavaleiro a vestir as bragas de almáfega e o zorame de burel do peão; muitas vezes o vilão ousa trajar o saio escudado de cavaleiro, e pôr sobre a cabeça o capelo de ouropel. Para responder ao que dissestes, por mercê mostrai-me a vossa carta de crença.
Estas palavras do conde foram vibradas com um sorrir tão desusado que o trovador precisou de toda a energia de que naturalmente era dotado para disfarçar a impressão que na sua alma elas haviam produzido. Eram demasiado claras para não as entender. Teria sido atraiçoado por Abul-Hassan? Tremeu ao pensar em Dulce. Sem replicar tirou do peitilho do saio um pequeno pergaminho dobrado e apresentou-o ao conde, o qual o passou às