— Vai-te - prosseguiu o trovador; e afastando-se até ao primeiro degrau da escada que dava para o alçapão ferrado da masmorra, e levantando a voz: - Carcereiros, levem esta mulher sem pudor, que vem tentar um moribundo na hora solene do passamento!
— Tudo por ti, menos a infâmia - interrompeu Dulce, com resolução sobre-humana, pegando na tocha que ardia no chão e retirando-se para a porta oculta. - Morrerás... mas eu não tardarei após ti... Num mundo melhor tu me farás justiça!...
Não pôde dizer mais nada, e desapareceu no vão escuro da porta, que se fechou atrás dela. Um grito doloroso foi o que então se ouviu; e depois profundo silêncio. Os joelhos de Egas curvaram-se debaixo dele, e encostou-se arquejando sobre os degraus da escada. Tinha acabado tudo para o desgraçado. Daria a alma aos demónios para ver diante de si Garcia Bermudes naquele momento, porque sentia devorá-lo a raiva de um tigre. O sangue do seu rival fora um refrigério para a febre que o consumia. A sua existência era um pesadelo monstruoso, um caos de dor e desesperação. Com os punhos cerrados, ameaçando o céu, bradou:
— Providência... mentira! -