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Nunca desejou tanto que a armadilha lhe désse caça. A curiosidade de conhecer a nova fórma de matar os animaes, promettida ao primeiro que tivesse a sorte de se deixar apanhar, o teve por muito tempo na maior excitação e vigília.

Pela manhã correu José ao fojo, onde encontrou, em lugar de preá, um coelho.

Era uma lindeza o animal. Gordo, coberto de macio pêllo em que se divisavam ligeiras malhas tão alvas como o algodão que pendia dos capulhos estalados ácima de sua masmorra, o filho do campo despertava, pela belleza das fórmas, e pela harmonia dos contornos, todos os sentimentos benevolos de que é capaz o humano coração. Os olhos reluziam como dous coquinhos polidos. O cão batia-lhe precipite qual si quizesse sahir-lhe pela bocca. E essa creatura tão candida e inoffensiva ia morrer! Oh meu Deus, porque extravagante e barbara interpretação das leis naturaes, ha de o homem julgar-se com direito á vida de semelhantes entes que mais merecem a sua protecção do que desafiam a sua cobardia?

Quando José, irresistivelmente captivo da formosura da innocente criaturinha, estava ainda admirando os seus encantos, um movimento violento arrancou-lh’a das mãos.