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FABULARIO PORTUGUÊS
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E a rraposa, como he muyto maleçiosa, carretou muyta lenha e palha e estopa, e pô-la d’arredor da aruor domde a aguya tijnha sseus filhos, e foy por hũu tiçom e açemdeo o foguo e fez tam gramde fugeyra que os filhos d’aguia[1] estauam em pomto de morte; e a aguya começou a rroguar e a braadar aa rraposa que nom fezesse mays foguo e que lhe queria dar sseus filhos. E per esta guisa a rraposa cobrou sseus filhos.




Em esta estoria o douctor dá emsinamemto[2] aos gramdes homẽes que nom ssejam em todo crueuees, ca os pequenos homẽes de pequena comdiçom podem muytas vezes enpeeçer aos gramdes, e sse lhe nom poderem empeeçer, lhe podem fazer proueyto.


XIV. [A aguia e o cágado]

[Fl. 10-v.][C]omta-sse que hũa aguya leuaua hũu cáguado, com os pees, no haar, e nom ssabia como o comesse. E assy estamdo, ssaltou peramte ella hũa gralha e disse aa dita aguia:

— Queres que te dê hũu bom comsselho? Aleuamta-te bem em çima no aar e abre as hunhas e leixa cayr esse cáguado: e cairá em terra, e quebramtar-sse-ha, e emtom o poderás comer, ca he muy ssaboroso de comer.

E a aguia feze-o assy. E pella limguoa da gralha morreo ho cáguado.




Em aquesta hestoria o doutor ameestra os homẽes, que deuem temperar ssuas linguoas, e nom as deuem teer ssem freo, pollas quaaes póde proçeder dapno e escamdalo a sseu proximo, porque da linguoa que nom he temperada sse sseguem arroydos e mortes de homẽes e outros jmfijmdos males. E hũu proberbio diz:

A limguo nom ha osso,

Mais rrompe o dosso.


XV. [O corvo e a aguia]

[Fl. 11-r.][F]oy hũa vez hũu coruo que estaua em çima de hũa aruor, e tijnha hũu pedaço de queyjo na boca pera comer. E em esto estamdo,

  1. =da aguia.
  2. Aqui está que riscado; o escriba pô-lo por engano, em virtude do que seguinte.