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SUD MENNUCCI

político honesto, com o senso exato das realidades nacionais, acabava aceitando, em setembro, pouco mais ou menos esses mesmos dispositivos, aprovando, sob a orientação de outro chefe, as providencias que se obstinara em não examinar meses antes. Houve, naturalmente, um espanto na opinião pública, espanto que a imprensa, desavisada, interpretou como um arrefecer da campanha abolicionista. A verdade era outra e transpareceu de chofre: refeita do assombro, a opinião pública reagiu, exigindo a libertação em massa, imediata, sem restrições, e foi apertando o cerco contra as últimas resistências, valendo-se daquela atmosfera de coação moral que é comum estabeleça em todos os grandes movimentos coletivos e sentimentais. A honra nacional estava empenhada no certame.

E a sociedade brasileira, purificada e redimida de seus crimes, rehabilitada de seu passado, pôz a Corôa e o Parlamento em estado de sitio. Coagidos pelas circunstancias, sem esperanças de uma sortida honrosa, ambos capitularam.

Aqueles dois votos de diferença, dos quais um era de um deputado republicano [1], e que haviam provocado

  1. A ogeriza de Gama, inquisilando-se contra o escravagismo disfarçado de muitos republicanos do tempo, crivando-os de setas e de piadas, não era, como se vê, sem razão. O voto do republicano, dado a favor de Dantas, haveria empatado a partida. E naquela legislatura não eram mais os liberais e os conservadores que se defrontavam. Eram os escravocratas e os abolicionistas que se mediam. Os republicanos não podiam deixar de estar com Souza Dantas, como estiveram os outros dois dos tres representantes que a nação mandara ao Parlamento.