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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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a queda do Ministerio Souza Dantas, foram o desafio á Nação. Esta, mobilizada, respondera-lhe, em tres anos, extinguindo, num estouro de mar enfurecido, a mancha negra.

Mas, Gama dormia, no cemiterio da Consolação, o sono dos justos.

Minara-o o diabetes. Já em fins de 80, na carta, retro-citada, a Ferreira de Menezes, ele conta que estava sob severo regime médico. E dai, por diante, a molestia foi se agravando.

“Na ultima pagina da vida de um grande homem”, que dentro de pouco transceverei, Raul Pompéa relembrou que Luiz Gama, nos últimos tempos, já não descia as escadas do escritório sem que o amparassem os amigos. “Era uma veneravel ruina”. Só não perdera a alegria. Esta persistia clara, translúcida, inalteravel. Por fim, teve de abandonar o escritório, retido ao leito. Foi crise rapida, em marcha para o desfecho final.

Ao meio dia de 24 de agosto perdeu a fala. Chamaram medicos com urgência. O primeiro que se apresentou foi o dr. Bertoldi, clínico italiano muito conhecido no tempo e amigo de Gama. Depois dele, foi a romaria: compareceram mais de vinte.

Gama caíra em sonolência. Alí pelas 14 horas, voltou momentaneamente e balbuciou uma frase, que não se sabe se referia á propria mãi, que ele longamente procurara, ou ao filho, que a esse tempo estudava na Escola Militar do Rio:

— “Está na Côrte...”