ções e falsas realizações, que lhe dá uma sociedade podre. Não lhe parece você que um tal trabalho é justo.
Enquanto ao processo, — estimo que você o aprove. Eu acho no Primo Basílio uma superabundância de detalhes, que obtive, e abafo um pouco a acção: o meu processo precisa simplificar-se, condensar-se, — e estuda isso: o essencial é dar a nota justa: um traço justo e sóbrio, cria mais que a acumulação de tons e de valores — como se diz em pintura. Mas isto é querer muito. Pobre de mim — nunca poderei dar a sublime nota da realidade eterna como o divino Balzac — ou a nota justa da realidade transitória como o grande Flaubert! Estes Deuses e estes semi-Deuses da arte estão nas alturas — e eu, desgraçadinho, rabeio nas ervas ínfimas. E todavia se já houve sociedade que reclamasse um artista vingador é esta! É sobretudo, vista de longe no seu conjunto, e contemplada de um meio farte como este aqui (sejam quais forem os seus grandes males, forte decerto) que contrista, achá-la tão mesquinha, tão estúpida, tão convencionalmente pateta, tão grotesca e tão pulha!
Alegra-me que você queira escrever alguma coisa sobre o Basílio: a sua opinião, publicada, daria ao meu pobre romance uma autoridade imprevista. Dar-lhe-ia um direito de existência: e de todos os defeitos, faltas, ou erros que você notar — tomarei cautelosamente nota. Eu tenho a paixão de ser leccionado; e basta darem-me a entender o bom caminho para eu me atirar para ele. Mas a crítica, ou o que em Portugal se chama a crítica, conserva sobre mim um silêncio desdenhoso.