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Neste desejo meu nunca mudança
Hão de ver as mudanças da ventura.

A vida tenho posta na balança
Da glória singular, do damno esquivo;
Que o perdê-la por vós he mor bonança.

Se vos offendo, cuido que não vivo:
Olhae se muito mais que de offender-vos,
Das esperanças do viver me privo.

O que temo somente he só perder-vos;
O que quero somente he só adorar-vos;
O que somente adoro he só querer-vos.

Querer-vos sem deixar de venerar-vos;
Desejar-vos somente por servir-vos;
Por servir a amor vil não desejar-vos:

Somente ver-vos, e somente ouvir-vos
Pretendo; e pois somente isto pretendo,
Deveis a estes sentidos permittir-vos.

Isto somente, (oh cego!) estou dizendo,
Como se fôra pouco isto somente!
Que mais que ouvir-vos ha? qu’estar-vos vendo?

Se o não merece o meu amor decente;
Se morte por amar-vos se merece,
Morra eu, Senhora; e vós ficae contente.

Se vos aggrava quem por vós padece;
Se vos vẽe a offender quem vos quer tanto,
Quem desta sorte errou não desmerece.

Que quando os olhos da razão levanto
Ao ceo d’essa rarissima belleza,
De não morrer por ella só m’espanto.

Deixae-me contentar desta tristeza,
E fazer de meus olhos largo rio;