Se algum póde abrandar vossa dureza.
Correndo sempre as lagrimas em fio,
Farei crescer as hervas por os prados,
Pois ja d’outra alegria desconfio.
No monte darei pasto a meus cuidados;
E serão de mi sempre entre os pastores
Esses divinos olhos celebrados.
Aprenderão de mi os amadores
Aquillo que se chama amor sublime,
Ouvindo o rigor vosso, e minhas dores.
E nenhum havera que a pena estime
Mais soberana por a causa della,
Que a que teve até então não desestime;
E qu’inveja não mostre á minha estrella.
ELEGIA X.
Que tristes novas, ou que novo dano,
Qu’inopinado mal incerto sôa,
Tingindo de temor o vulto humano?
Que vejo? as praias humidas de Goa
Ferver com gente attonita e turbada
Do rumor que de boca em boca vôa!
He morto D. Miguel (ah crua espada!)
E parte da lustrosa companhia
Que alegre s’embarcou na triste Armada:
E d’espingarda ardente e lança fria
Passado por o torpe e iniquo braço,
Que nossas altas famas injuría.