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Vem o moço, e assenta-se na cadeira Filodemo e diz avante

FILODEMO.

Ora quero praticar
Só comigo hum pouco aqui;
Que despois que me perdi,
Desejo de me tomar
Estreita conta de mi.
Vae para fóra, Vilardo.
Torna cá: vae-me saber
Se se quer ja lá erguer
O Senhor Dom Lusidardo,
E vem-mo logo dizer. Vai-se o moço.
Ora bem, minha ousadia,
Sem azas, pouco segura,
Quem vos deo tanta valia,
Que subais a phantasia
Onde não sobe a ventura?
Por ventura eu não nasci
No mato, sem mais valer,
Que o gado ao pasto trazer?
Pois donde me veio a mi
Saber-me tão bem perder?
Eu, nascido entre pastores,
Fui trazido dos currais,
E d’entre meus naturais
Para casa dos Senhores,
Donde vim a valer mais.
E agora logo tão cedo
Quiz mostrar a condição
De rustico e de villão!
Dando-me ventura o dedo,