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E outros, só com deixar-te,
Descansárão.

Se esta tão clara fé
Te põe claros teus enganos,
Desengana:
Sobejamente mal vê,
Quem com tantos desenganos
Se engana.

Mas como tu sempre mores
No engano em que andamos,
E que vemos,
Não cremos o que tu podes,
Senão o que desejamos
E queremos.

Nada te póde estimar
Quem bem quizer conhecer-te
E estimar-te;

Qu’em te perder ou ganhar,
O mais seguro ganhar-te
He perder-te.

E quem em ti determina
Descanso poder achar,
Saiba que erra;
Que sendo a alma divina,
Não a póde descansar
Nada da terra.

Nascemos para morrer,
Morremos para ter vida,
Em ti morrendo:
O mais certo he merecer
Nós a vida conhecida,
Ca vivendo.

Emfim, mundo, es estalagem,
Em que pousão nossas vidas
De corrida: