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SONETOS.
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CLXXXIV.

 
Sentindo-se alcançada a bella esposa
De Céphalo no crime consentido,
Para os montes fugia do marido;
E não sei se de astuta, ou vergonhosa.

Porque elle, em fim, soffrendo a dor ciosa,
Da cegueira obrigado de Cupido,
Apos ella se vai como perdido,
Ja perdoando a culpa criminosa.

Deita-se aos pés da Nympha endurecida,
Que do cioso engano está aggravada;
Ja lhe pede perdão, ja pede a vida.

Oh fôrça d'affeição desatinada!
Que da culpa contr'elle commettida,
Perdão pedia á parte que he culpada!



CLXXXV.

Seguia aquelle fogo, que o guiava,
Leandro, contra o mar e contra o vento;
Quebravão-lhe ondas o animoso alento,
Por mais e mais que Amor lho renovava.

Com sentir ja que quasi lhe faltava,
Sem nada esmorecer, no pensamento
(Não podendo fallar) de seu intento
O fim ao surdo mar encommendava.

Ó mar, (dizia o moço só comsigo)
Ja te não peço a vida; só queria
Que a d'Hero me salvasses: não me veja:

Este defunto corpo lá o desvia
D'aquella tôrre: sê-me nisto amigo,
Pois no meu maior bem me houveste inveja.