A epopéa de Pharsalia não podia nem devia deslumbrar aos relampagos do Olympo. Perdendo o raytho, desnebrinando-se da fabula helenica ganhava em verdade, por ventura em unidade de acção o que não sei se per lia em grandesa — por que a verdade o é tambem : — não sei o que haja mais sublime que o sublime historico.
E tambem, depois da poesia helleno-latina era impossível acordar aquelles colossos do paganismo com brilhantismo homérico — não só por que Homero viera primeiro, e por que fôra o genio maior da antiguidade; mas tambem por que Homero cria, e Lucano, á decadencia descrida de Roma, não cria — e a poesia da religião é a fé.
Assim pois, não ha julgar a epopéa de Lucano pela Poética Aristotelica. A Poética, com todas as leis, deve variar com as suas condições de existencia, com suas mudanças de relações. Leis irrevogáveis — eis uma utopia muito maior ainda na arte — um de cujos fins é o bello e o aperfeiçoamento do bello — do que na legislação — cujo fim é o justo e a realisação do justo.
Comparando Virgilio e Lucano, não irei negar a superioridade d'aquelle. Profana ousadia minha fôra o romper-lhe alguma das bagas da laurea. Com tudo, no parallelo tem-se dado como um defeito a Lucano o methodo do seu poema. Quizeram-lhe o resaibo do céo grego para coroar sua melopéa como o côro nas producções an-