Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/262


Vassalos sois de um Rei, que não vos deve
O cetro, ou a coroa; a origem teve
Já dos vossos Senhores; por herança
O Reino Augusto em suas mãos descansa.
Sendo assim, bem sabeis que é só tributo,
E não dádiva vossa aquele fruto
Que adquirem vossas forças; dou que fosse
Vossa a conquista; o seu domínio e posse
Só cede ao vosso Rei; causa comua
Seja ela embora, é nossa, porque é sua.
Ele os seus braços para nós estende,
Nos manda e rege; e tudo compreende
O seu Império na maior distância;
Nós juramos das Leis toda a observância,
E do primeiro pacto não devemos
Apartar-nos, pois nele nos prendemos.
Do castigo e do prêmio ele confia
Das minhas mãos o arbítrio; eu deveria
Usar do meu poder; porém cedendo
À piedade o rigor, de vós pertendo
Só dignas provas de obediência pura.
Não quero crer a sem-razão perjura,
Que dominou em vós; a caluniosa,
Torpe mentira, cuido que enganosa
Fez voar tudo quanto é já notório
Que tem feito a ruína deste empório;
Enfim perdôo a todos o passado;
Firma o Rei o perdão que tenho dado.

Conheço (e com Viana só falava)
Que em vós, e em vosso peito dominava
Um zelo justo pelas leis que guardo;
De dar as providências já não tardo
Sobre os dous ímpios, que influir puderam
Nas discórdias civis: eles se alteram