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CLAUDIO MANOEL DA COSTA

Cheio de fúrias mil vomita fogo
O Interesse, que o guia e arrasta logo
O falso Engano e a Traição malvada,
Que vêem tanta fadiga malograda.



CANTO X


De Flégon e Pírois as rédeas de ouro
Batia o Sol, e com feliz agouro
Em giros onze ao lusitano fasto
Sobre mil setecentos que tem gasto
Pelo eclítico cerco, enfim trazia
O mês que Roma do seu Júlio fia

Eis que Albuquerque, adiantando o passo
Da margem que deixara, em breve espaço
Pisava as faldas do Itamonte: estava
Co'os olhos fitos o Gigante, e dava
Vivos sinais de uma alegria interna;
Certo que de seus braços já governa
Tão grande parte a direção prudente
Do magnânimo Herói, ele impaciente
Na dilação de ver a Vila erguida,
Conta-se (nem do caso se duvida),
Que assim falara quando o viu diante:

Ó tu, por tantos riscos triunfante,
Albuquerque feliz, pois que a fortuna
Te conduziu com máxima oportuna
A registar de perto os meus domínios,
Pois que cortados os fatais desígnios
Do conjurado bando alegre pisas
Este verde País, onde eternizas
Em gloriosos feitos o teu nome,