Os tyrannos sem conto - velhos cultos,
Espectros que nos gelam com o abraço...
E mais renascem quanto mais sepultos...
E mais ardentes no maior cansaço...
Visões d'antigos sonhos, cujos vultos
Nos opprimem ainda o peito lasso...
Da terra e céo bandidos orgulhosos,
Os Reis sem fé e os Deuses enganosos!
O mal só d'elles vem - não vem do Homem.
Vem dos tristes enganos, e não vem
Da alma, que elles invadem e consomem,
Espedaçando-a pelo mundo além!
Mas que os desfaça o raio, mas que os tomem
As auroras, um dia, e logo o Bem,
Que encobria essa sombra movediça,
Surgirá, como um astro de Justiça!
E, se cuidas que os vultos levantados
Pela illusão antiga, em desabando,
Hão-de deixar os céos despovoados
E o mundo entre ruinas vacillando;
Esforça! ergue teus olhos magoados!
Verás que o horisonte, em se rasgando,
É por que um céo maior nos mostre - e é nosso
Esse céo e esse espaço! é tudo nosso!