Lá jogou-nos a vaga, e um deus foi guia;
Nada na cega noite se enxergava:
Na terra as naus, em densa escuridade
Esmorecida a Lua, a terra oculta,
Nem rolar a mareta ás praias vimos,110
Antes que as proas abicassem nelas.
Colhido o pano salta-se, e na areia,
Da madrugada á espera, adormecemos.

Do ar mal fulge a dedirrósea prole,
Toda a ilha admirados perlustramos.115
Nymphas do aluno de Amaltéia agitam
Para nosso jantar monteses cabras.
Das naus trouxemos arcos e azagaias;
Tripartidos, de caça o deus fartou-nos;
Cabeças nove cada nau das doze,120
Uma de mais sómente obteve a minha.
Ao sol posto a comer, nos regalamos
De roxo vinho; em ânforas a bordo,
Roubo, do sacro burgo dos Cícones,
Inda restava. Nos Ciclópeos cumes125
Fumo avistou-se, ouviram-se balidos.
Anoitece e dormimos; na alvorada
Convoco a gente: «Cá vos deixo, amigos;
Eu mesmo explorarei se aqueles homens
São ferozes e injustos e intrataveis.130
Ou tementes aos deuses e hospedeiros.»

Ocupo o meu navio; os da companha,
Desatando os calabres, abancados
A branca espuma a remos açoutavam.
Na próxima paragem, numa extrema,135
Junto ao mar descobriu-se alta espelunca,
De loureiros opaca, onde albergava
Cabrum gado e ovelhum, do pátio em roda
A pique rochas, com alvares pinhos
E carvalhos de topes verdejantes.140
Seus rebanhos ali desconversavel
Gigante pastorava, em separado,
Só consigo maldades ruminando;
Monstro não comparavel aos humanos
De pão nutridos, mas do monte ao cume145