Sentado, ovelhas e balantes cabras
Em ordem munge, e ás mães submete as crias:
Porções do leite coalha e aperta em fôrmas;
Guarda metade, que ceando beba.
Tudo aviado e em cobro, atiça o lume,190
E dá conosco e diz: «Quem sois vós outros?
Navegais por negocio, ou ruins piratas
Os mares infestais, expondo as vidas
Para infortúnio e dano de estrangeiros?»
Frios, do rouco som, do monstro mesmo195
Trememos todos; mas falar me atrevo:
«Dos Gregos somos que, da patria em busca,
Desde Ílios furacões nos remessaram
A estranhas plagas, por querer de Jove;
No exército servimos de Agamemnon,200
Cuja glória a qualquer mundana eclipsa,
Pois destruiu tal povo e tal cidade.
A teus pés agasalho deprecamos.
Ou brindes hospitais. Receia os deuses,
Senhor; Júpiter vinga os suplicantes,205
E a bons e honrados hospedes protege.»

Turvo me respondeu: «Louco! tão longe
Vens o temor dos deuses ensinar-me?
Os Cyclopes, que os deuses mais prestantes,
Esse aluno da cabra desdenhamos.210
Se não por mim, de Júpiter por medo
Pensas que te perdoe e os companheiros?
Onde ancoraste a nau? distante ou perto?
Declara-o já.» — Manhoso ao laço fujo:
«Desfez-ma o Ennosigeu, na ponta e escolhos215
Dos fins da vossa terra; aqui, dos ventos
Rojado, a custo me salvei com estes.»
Ei-lo, sevo e em silêncio, a dous agarra,
No chão como uns cãezinhos os machuca,
E o cérebro no chão corre espargido;220
Os membros rasga, e lhes devora tudo,
Fibra, entranha, osso mole ou meduloso,
Qual faminto leão: chorando as palmas,
Em desespero e grita, a Jove alçamos.
Pleno de humanas carnes o amplo ventre,225