Leite bebe o Cyclope a grandes sorvos,
E entre as ovelhas na caverna estira-se:
Animoso de espada ia feri-lo,
Onde o fígado junta-se ao diafragma,
Quando á idéa me vem que, nímio débeis230
Para o empacho movermos da saída,
Morreríamos todos morte acerba:
A aurora pois gementes esperamos.

Ao raiar da manhã, suscita o fogo,
Ordenha e a cada mãe submete as crias.235
O serviço afervora, e para o almoço
Mais dous empolga e traga; a pedra erguendo
Fácil, como na aljava a tampa ajusta,
A repõe, já de fora com seu gado;
E, indo-se ao monte, ouvíamos seus urros.240
Vingança cogitada, invoco a Palas;
Trás longo meditar, melhor conselho
Este me pareceu: de um tronco pego
Oleagíneo e verde, grosso e longo,
No antro a secar jazendo para clava,245
Que o mastro parecia de um mercante
Flutívago baixel de vinte remos;
Corto-lhe uma braçada, os socios mando
O pedaço alisar, depois o aguço
E o tosto a fogo ardente, no monturo250
Pela caverna acumulado o escondo.
Sorteiam-se os que atrevam-se comigo
No olho o pau enterrar-lhe pontiagudo,
Enquanto sopitado em sono esteja;
A sorte elege quatro, e eu faço o quinto.255

Chega á tarde o pastor, e sem no pátio
Conter os machos, encurrala o gado.
Ou por divino influxo ou por suspeita;
A boca do antro fecha, em ordem munge
Sentado as fêmeas e submete as crias.260
Presto acaba o serviço, e para ceia
Inda esquarteja dous; eu perto exclamo,
Taça a lhe oferecer de roxo vinho:
«De carne humana estás, Cyclope, farto;
Ora da nossa nau prova a bebida.265