Mais terias, se á casa me enviasses
Por compaixão: que furia intoleravel!
Como, de tanta crueldade á vista,
Pode qualquer humano visitar-te?»

Recebe a taça, com delicia a empina,270
E pede mais: «Dá-me de novo, dá-me;
O nome teu me digas, para haveres
Dom que te aprazirá. Nossa alma terra
Vinho de uvas produz que orvalha Jove;
Mas este, ambrosia é doce e néctar puro.»275

Renovo a taça ardente, que três vezes
Néscio esgotou. Sentindo-o já toldado,
Brando ajunto: «Cyclope, não me faltes
Á promessa. Meu nome tu perguntas?
Eu me chamo Ninguém, Ninguém me chamam280
Vizinhos e parentes.» O ímpio e fero
Balbuciou: «Ninguém, depois dos outros
Último hei de comer-te; eis meu presente.»

E ressupino cai e, a cerviz grossa
Dobrando, ao sono domador se rende;285
A impar na embriaguez, ressona e arrota,
Vomita o vinho e carne humana em postas.
Na cinza o lenho aqueço, animo os socios
A não me abandonarem no perigo;
O oleagíneo troço, inda que verde,290
Em brasa tiro, e um deus nos acorçoa;
No olho ficam-lhe os meus o pau candente,
Eu de cima o revolvo: qual se broca
Naval madeira, que sustém com loros
Do mestre oficiais de uma e outra banda295
E o trado gira sempre; assim viramos
No olho o tição. Cálido sangue espirra;
O vapor da pupila afogueada
As pálpebras queimava e a sobrancelha;
Do imo as raízes crepitar sentimos.300
Quando enxó n’água fria ou grã secure
Imergindo o forjeiro a temperal-o
Caldeia o ferro, estrídulo este chia:
Da trave em roda o olho assim chiava.
O urro tremendo ecoa nos penedos;305