Música Circe de madeixas de ouro,
Irmã de Etas prudente, nados ambos
Do claro Sol e da Oceânia Persa.
A largo surgidouro um deus nos guia;
Lá, de cansaço e de ânsias corroídos,110
Longamente e em silêncio repousamos.
Da aurora crinisparsa á luz terceira,
A espada e lança tomo, um alto subo
Donde ouça vozes ou culturas veja;
Paro no áspero tope, enxergo um fumo115
Que dentre um carvalhal saía em cerco
Do palacio de Circe. N’alma volvo
Se após o fumo avance; mas prefiro
Ir a bordo, e á maruja dado o almoço,
Enviar adiante exploradores.120
Da nau já perto, condoído um nume
Da minha soledade, ofereceu-me
Galheiro cervo, que do pasto ao rio
Vinha beber, da calma estimulado:
A bronze o atravessei pelo espinhaço,125
E o bruto cai berrando e a vida exala;
Pulo, saco-lhe o hastil, por terra o deixo,
Vimes despego e silvas, e torcendo-os
Corda formo de braça, os pés lhe amarro;
Firme n’hasta, ao cachaço o levo preso,130
Porque de uma só mão, sobre uma espádua,
Suster carga tamanha era impossível.
Ante os socios o arrojo, e em modo afavel
Os conforto um por um: «A Dite, amigos,
Só baixaremos do fatal instante;135
Comei, bebei, de fome não morramos.»

Dóceis levantam-se, e na praia admiram
O enorme cervo, e os olhos tendo fartos,
As mãos lavadas, o festim preparam.
Veação gorda e vinho, até ser tarde,140
Nos regalaram; sobre a noite escura
Na marítima areia adormecemos.
No amanhecer, convoco e falo a todos:
«Por mais graves que sejam nossas penas,
Atendei-me, consocios. Ignoramos145