Se a terra é donde o Sol mergulha em trevas,
Ou do fúlgido eôo em que elle nasce;
Quero vos consultar, eu nada afirmo.
Do cume de um penhasco, vi que a cinge
Mar infinito, humilde ilha pequena,150
Que dentre basto carvalhal fumega.»

Estala o coração, lágrimas chovem;
Das cruezas de Antífates se lembram,
E do fero antropófago Cyclope.
Chorar que vale? Em corpos dous os nossos,155
Mando eu um, outro Euríloco deiforme:
Sacudidas as sortes no elmo aêneo,
Sai a do bravo Euríloco; este parte
Com vinte dous gementes companheiros,
Que apartam-se de nós também gementes.160

Num vale acham marmóreo insigne paço,
Que cercam lobos e leões, de Circe
Com peçonha amansados: contra a gente
Não remeteram de unhas lacerantes,
Sim alongando a cauda os afagaram,165
Como festejam cães o meigo dono
Que lhes traz do banquete algum bocado;
Mas, a tal vista, ao pórtico medrosos
Retiveram-se os Gregos. Dentro ouviam
Cantar suave a crinipulcra Circe,170
Teia a correr brilhante, que só deusas
Lavram tão fina e bela. Eis diz Polites,
Chefe que eu mais prezava: «No alto, amigos,
Mulher ou deusa tece; o pavimento
Ressoa todo ao cântico: falemos.»175

Gritam; Circe aparece, e abrindo as portas
Resplendentes, convida esses incautos;
Só, receoso, Euríloco repugna.
Senta-os a deusa em tronos e camilhas;
Escândea e queijo com Paneio vinho180
Mistura e fresco mel, poção lhe ajunta
Que deslembra da patria. Mal a engolem,
Toca-os de vara, na pocilga os fecha,
Porcos sendo no som, no vulto e cerdas,
A inteligencia embora conservassem.185