Até que ao pranto lhes sucede o sono.
Da noite por um terço indo-se os astros
Grã borrasca o Nimbifero carrega,
Pego e terra embruscando, e rui do pólo
Denso negrume; e assim que a matutina230
Aurora aponta, em gruta a nau pusemos,
De nymphas gentilissimas assento.
Oro em conselho: «Mantimentos sobram;
Será fatal comermos bois e ovelhas
Do acre Sol, que vê tudo e tudo exouve.»235

Seu brio suadi. Sós Euro e Noto
Sopraram de contino um mês inteiro:
Pão tendo e vinho, abstinham-se das reses,
Cuidadosos das vidas; gastam mesmo
As vitualhas, pela fome urgidos240
Que o ventre nos roía, á caça andamos
De aves e peixes, do que anzóis pilhavam,
Dardos, seta ou rojão. Pela ilha fui-me
Os deuses a rogar, se algum maneira
De sair me indicasse: as mãos lavando245
Num abrigado, imploro á etérea corte,
Que me infundiu nas pálpebras o sono.

O mal, no entanto, Euríloco sugere:
«Desgraçados, a morte é sempre feia,
Mas a pior é perecer de fome.250
Os bois do Sol carnudo imolemos
Aos imortaes, e ao claro deus sublime
Na patria precioso orne-se um templo;
E se irritado, os outros consentindo,
For seu gosto afogar-nos, antes quero255
Beber de um trago a morte em salsas ondas
Que ir em deserta ilha definhando.»

Aplaudem-no; e, prendendo os mais vistosos,
De larga fronte e retorcidos cornos,
Que ante a rostrada fusca nau pasciam,260
Das vítimas em torno aos deuses votam
Uns grelos de carvalho alticomado,
Por faltar branco farro. Preces findas,
Matam, esfolam, separando as coxas;
Das quais por cima, em duplo zerbo envoltas,265
Põem miúdas porções