do corpo inteiro,
E por não terem vinho para o fogo,
Água libando os intestinos assam.
Ao fixarem no espeto as gordas postas,
Sacudo o brando sono, e alvorotado270
Á praia me encaminho. Já não longe
Das carnes sinto o recendente cheiro;
Aos Céos triste bradei: «Júpiter padre,
Numes, em divo sono me ensopastes,
Para um tal sacrilégio perpetrarem!»275

Ao Sol voa Lampécia amplo-velada
O crime a delatar, e o Sol furente
Bramiu: «Jove, ó beatos sempiternos,
Puni-me do Laércio os companheiros;
Ah! mataram-me os bois, meu gosto e enlevo,280
Quando eu subia ao céo, descia á terra:
Se vós não me vingais, vou-me a Sumano
A alumiar as sombras.» — E o Tonante:
«Ó Sol, aos deuses de luzir não cesses
E aos terrestres mortaes: a raio ardente285
Hei de o baixel ferir e incendial-o
No seio do atro mar.» — Isto Calypso
Me declarou, que o soube de Mercurio.

Chegando á praia, increpo homem por homem;
Nenhum remédio havia ás mortas reses.290
Manifestou-se a cólera suprema:
Peles serpeiam; carne assada ou crua
No espeto muge, a voz bovina soa.
Seis dias, não obstante, se nutriram
Do melhor da manada; e, o borrascoso295
Vento acalmando ao sétimo, embarcamos,
E ereto o mastro, as velas desferimos.

Some-se a ilha, o pólo e o mar só vemos
Eis cerúleo bulcão sobre o navio,
Retém-no um pouco, enegrecendo as ondas;300
Mas em rajada Zéfiro estridente
Rompe os ovéns do mastro, que á ré tomba
Atirando o maçame na sentina,
E á popa o crânio do piloto racha;
Da tolda qual mergulhador caindo,305