Onde Ulysses e o filho as depuseram.»

Por interior escada ei-lo que passa
Á câmara de Ulysses, donde aos procos
Doze dardos fornece e broquéis doze,
Doze êneos cascos de camada crista.110
O herói tituba um tanto, ao ver arnêses
Fugir aos peitos e nas mãos remessos;
Maior a empresa então se lhe afigura,
E grita: «Armou-nos, filho, uma das servas
Cruel certame, se não foi Melantio.»115

«A culpa é minha, o príncipe confessa,
A câmara, meu pai, deixando aberta;
Eles desse descuido se valeram.
Anda a fechá-la, e observa, Eumeu, se alguma
Escrava é quem nos trai, ou, como julgo,120
De Dólio o filho.» — Entanto, Eumeu lobriga
Melântio a remontar: «Solerte Ulysses,
O traidor é o ruim que suspeitamos.
Se o venço, hei de matal-o, ou conduzir-to
Por que pene os excessos perpetrados?»125

E o rei prudente: «A lhes conter a furia
Eu basto com Telemacho. Vós ambos
Na câmara o tranqueis: atai-lhe ás costas
Mãos e pés; ao pilar da corda o extremo
O ice; da trave atormentado penda.»130

Apressuram-se os dous. Sem que os bispasse
Já dentro, armas catando, o guarda-cabras,
De sentinela ao patamar ficaram;
Até que sai, com reluzente casco
Na esquerda, na direita um ressequido135
Largo e velho broquel do bom Laertes,
Que estava ali de loros despegados.
Com juvenil ardor, no solho interno
Rojam-no preso, amarram-no e penduram,
De seu senhor executando as ordens.140
Mordaz, Eumeu, clamaste: «Ora, Melântio,
Na mole veles merecida cama;
E, ao raiar do Oceano a matutina
Aurora em trono de ouro, não te esqueças
De lhes trazer para os banquetes cabras.»145