Do cabo Maléia, o imbrifero Tonante
Solta estrídulos ventos e em montanhas
Incha escarcéos; dispersa, a frota em parte
A Creta arriba, onde os Cídones moram
Ás abas do Járdano. Alcantilada230
Nos Gortínios confins se eleva rocha
Do escuro ponto, e ali maretas Noto
Quebra em Festo ao sinistro promontório;
Pelo pequeno escolho divididas:
Naufraga, e apenas a campanha livra235
Menelau, que em cerúleas proas cinco
O sopro e as ondas para o Egito impelem.
Enquanto vaga entre homens de outra lingua
E as naus de outro carrega e mantimentos,
Perfaz o dolo Egistho, e por sete anos240
Duro impera em Micenas opulenta;
No oitavo, o divo Orestes vem de Atenas,
Vinga seu pai ao matador matando,
E ao sepulcral banquete assenta os Gregos
Do imbele adúltero e da mãe perversa:245
O afavel Menelau surge esse dia,
Nos baixéis de riqueza abarrotados.
Não muito e longe dos soberbos andes,
Que devorem-te a casa e os bens repartam:
Seria, amigo, péssima a viagem.250
Eu te aconselho a visitar o Atrida,
Que veio donde vir já não pensava,
Por temporais jogado além do horrendo
Pelago vasto, que nem aves podem
Num ano atravessar. Ou corta os mares255
No teu navio, ou se por terra queres,
Dou-te meu carro, e os filhos te conduzam
De Esparta á nobre corte: a preces tuas,
O probo rei te falará sincero.»

Caído o Sol, adverte a gázea Palas:260
«Sábio discorres, velho, mas das vezes
Talhem-se as linguas, e mesclado o vinho,
Libemos a Neptuno e ás mais deidades:
Hora é de repousar; sepulto o lume
Na opaca treva, recolher-nos cumpre265