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OS MAIAS

E assim passara a hora de ir ao Lumiar vêr as colxas antigas das senhoras Medeiros...

— ­Quer você então meia hora de florete, Craft? perguntou Carlos.

— ­Seja: e é necessario dar a lição ao Damaso...

— ­É verdade, a lição... — ­murmurou Damaso, sem enthusiasmo, com um sorriso murcho.

A sala de esgrima era uma casa terrea, debaixo dos quartos de Carlos, com janellas gradeadas para o jardim, por onde resvalava, atravez das arvores, uma luz esverdinhada. Em dias enevoados era necessario accender os quatro bicos de gaz. Damaso seguiu, atraz dos dois, com uma lentidão de rez desconfiada.

Aquellas lições, que elle sollicitara por amor do chic, íam-se-lhe tornando odiosas. E n’essa tarde, como sempre, apenas se enchumaçou com o plastrão d’anta, se cobriu com a caraça de arame, começou a transpirar, a fazer-se branco. Diante d’elle Craft, de florete na mão, parecia-lhe cruel e bestial, com aquelles seus hombros de Hercules sereno, o olhar claro e frio. Os dois ferros rasparam. Damaso estremeceu todo.

— ­Firme, gritou-lhe Carlos.

O desgraçado equilibrava-se sobre a perna roliça; o florete de Craft vibrou, rebrilhou, voou sobre elle; Damaso recuou, suffocado, cambaleando e com o braço frouxo...

— ­Firme! berrava-lhe Carlos.

Damaso, exhausto, abaixou a arma.