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OS MAIAS

Correu o reposteiro. Ella approximou-se, murmurou algumas palavras, approvando a frescura dos cretones, a harmonia dos tons claros: depois o piano fel-a sorrir.

— ­Os seus doentes dançam quadrilhas?

— ­Os meus doentes, senhora condessa, respondeu Carlos, não são bastante numerosos para formar uma quadrilha. Raras vezes mesmo tenho dois para uma valsa... O piano está simplesmente alli para dar idêas alegres; é como uma promessa tacita de saude, de futuras soirèes, de bonitas arias do Trovador, em familia...

— ­É engenhoso, disse ella dando familiarmente alguns passos na sala, com Charlie collado aos vestidos.

E Carlos, caminhando ao lado d’ella:

— ­V. ex.ª não imagina como eu sou engenhoso!

— ­Já n’outro dia me disse... Como foi que disse? Ah! que era muito inventivo quando odiava.

— ­Muito mais quando amo, disse elle rindo.

Mas ella não respondeu: parára junto do piano, remexeu um momento as musicas espalhadas, feriu duas notas no teclado.

— ­É um chocalho.

— ­Oh, senhora condessa!

Ella seguiu, foi examinar um quadro a oleo, copiado de Landseer — ­um focinho de cão de S. Bernardo, macisso e bonacheirão, adormecido sobre as patas. Quasi roçando-lhe o vestido, Carlos sentia o fino perfume de verbena que ella usava sempre exageradamente: e, entre aquelles tons negros que a cobriam,