OS MAIAS
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a sua pelle parecia mais clara, mais doce á vista, e attrahindo como um setim.

— ­Este é um horror, murmurou ella, voltando-se; mas disse-me o Ega que ha quadros lindos no Ramalhete... Fallou-me sobretudo d’um Greuze e d’um Rubens... É pena que se não possam vêr essas maravilhas.

Carlos lamentava tambem que uma existencia de solteirões lhes impedisse, a elle e ao avô, de receberem senhoras. O Ramalhete estava tomando uma melancolia de mosteiro. Se assim continuassem mais alguns mezes, sem que se sentisse alli um calor de vestido, um aroma de mulher, vinha a nascer a herva pelos tapetes.

— ­É por isso, accrescentou elle muito serio, que eu vou obrigar o avô a casar-se.

A condessa riu, os seus lindos dentes miudinhos alvejaram na sombra do véo.

— ­Gosto da sua alegria, disse ella.

— ­É uma questão de regimen. V. ex.ª não é alegre?

Ella encolheu os hombros, sem saber... Depois, batendo com a ponta do guarda-sol na sua botina de verniz que brilhava sobre o tapete claro, murmurou com os olhos baixos, deixando ir as palavras, n’um tom d’intimidade e de confidencia:

— ­Dizem que não, que sou triste, que tenho spleen...

O olhar de Carlos seguira o d’ella, pousara-se na botina de verniz que calçava delicadamente um pé fino e comprido: Charlie, entretido, mexia nas teclas do piano — ­e elle baixou a voz para lhe dizer: