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OS MAIAS

pozeram os pés nos primeiros degraus do Nunes, ouviram em cima o chalrar da sucia. Estavam na ante-sala, já todos reconciliados, a Concha contente — ­e installados aos dois cantos de uma meza, com cartas. O Palma, munido d’uma garrafa de genebra, fazia uma batotinha para o Eusebio; e as duas hespanholas, de cigarro na bocca, jogavam languidamente a bisca.

O viuvo, enfiado, perdia. No monte, que começára miseravelmente com duas corôas, já luzia ouro; e Palma triumphava, chalaceiando, dando beijocas na sua moça. Mas, ao mesmo tempo, fazia de cavalheiro, fallava de dar a desforra, ficar ali, sendo necessario, até de madrugada.

— ­Então vv. ex.as não se tentam? Isto é para passar o tempo... Em Cintra tudo serve... Valete! Perdeu você outro mico no rei. Deve a libra mais quinze tostões, sô Silveira!

Carlos passára, sem responder, seguido pelo criado — ­no momento em que Euzebiosinho, furioso, já desconfiado, quiz verificar, com as lunetas negras sobre o baralho, se lá estavam todos os reis.

Palma alastrou as cartas largamente, sem se zangar. Entre amigos, que diabo, tudo se admittia! A sua hespanhola, essa sim, escandalisou-se, defendendo a honra do seu homem: então Palmita havia de ter empalmado o rei? Mas, a Concha, zelava o dinheiro do seu viuvo, exclamava que o rei podia estar perdido... Os reis estavam lá.

Palma atirou um calice de genebra ás goelas, e recomeçou a baralhar magestosamente.