OS MAIAS
337

vagamente, atravez da sua neblina mental, que se tratava de um visconde de Torral e de porcos... Quando Villaça lhe apresentou os papeis, assignou-os com um ar moribundo.

— ­Então não fica para almoçar, Villaça? disse elle, vendo o procurador metter o seu rolo de papeis debaixo do braço.

— ­Muito agradecido a v. ex.ª Tenho de me encontrar com o nosso amigo Eusebio... Vamos ao ministerio do reino, elle tem lá uma pertenção... Quer a commenda da Conceição... Mas este governo está desgostoso com elle.

— ­Ah, murmurou Carlos com respeito e atravez d’um bocejo, o governo não está contente com o Eusebiosinho?

— ­Não se portou bem nas eleições. Ainda ha dias, o ministro do reino me dizia, em confidencia: «O Eusebio é rapaz de merecimento, mas atravessado...» V. Ex.ª n’outro dia, disse-me o Cruges, encontrou-o em Cintra.

— ­Sim, lá estava a fazer jus á commenda da Conceição.

Quando Villaça saiu Carlos retomou lentamente a penna, e ficou um momento, com os olhos na pagina meio-escripta, coçando a barba, desanimado e esteril. Mas quasi em seguida appareceu Affonso da Maia, ainda de chapéo, á volta do seu passeio matinal no bairro, e com uma carta na mão, que era para Carlos, e que elle achara no escriptorio misturada ao seu correio. Além d’isso, esperava encontrar ali o Villaça.